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sábado, 17 de setembro de 2011

Parto da Alice (normal)

Oito de outubro, quarta-feira. 39 semanas completas de gestação.
Acordei de madrugada depois que senti um “ploft”. Senti algo vazando e resolvi ir no banheiro pra ver o que era. Pensava ser o tampão mucoso. Foi só fazer força pra levantar da cama que o aguaceiro apareceu. A bolsa rompeu. O trabalho de parto de Alice começou igualzinho o da irmã, com a bolsa rompendo. Líquido clarinho. Eram 5:45 da manhã.
Dessa vez não me desesperei. Fui pro banheiro, me lavei, coloquei um absorvente e voltei pra cama, que não molhou tanto assim. André já acordou e ficamos conversando. Não queria acordar meus pais, nem a Laura. E ia esperar mais um pouco pra ligar pra parteira.

Algum tempo depois começaram as contrações. Eram fraquinhas, pareciam cólicas menstruais. Eu não contei o intervalo entre elas. Como já tinha lido nos livros, resolvi levar o dia normalmente, até que ficasse impossível não notar as contrações, e aí sim ia passar a contar os intervalos.
Acordei meus pais logo em seguida. Eu não consigo guardar segredo mesmo. Falei que estava tranquila e disse que ligaria pra parteira lá pelas 9 da manhã. Eles ficaram em paz também. Meu pai disse que não me reconhecia, que eu estava calma demais. Mas ficar nervosa por quê? Falamos com os parentes no Rio, pra avisar que Alice ia nascer logo. Eu imaginava que seria ainda naquele dia, quarta-feira.

Liguei pra parteira e ela veio me ver em casa. Falei da bolsa rompida, das coliquinhas. Ela disse que esperava que Alice nascesse dentro de 24 horas de bolsa rota. Não fez exame de toque justamente por causa da ruptura da bolsa. Disse pra eu andar bastante, beber muita água e tentar dormir, que o dia, e talvez a noite, seriam longos. Se o trabalho de parto não evoluísse até o dia seguinte, conversaríamos novamente sobre como proceder. Se as contrações aumentassem, era pra eu ligar novamente quando estivessem de 3 em 3 minutos, durando 1 minuto, por 1 hora. Ela ligaria pra mim novamente no fim do dia. Estava combinado.
E o dia passou normalmente. André trabalhou de casa. Laura não foi na escola. Estávamos todos na expectativa, mas levamos o resto do dia como outro qualquer. Continuava vazando líquido amniótico e sentindo as contraçõezinhas bem fracas. De tarde, lá pelas 4, fui no shopping com André pra comprar o presente que Alice traria pra Laura, uma câmera digital infantil, da Fisher Price. Até então não tínhamos comprado! Foi bom andar um pouco pra acelerar o processo. Foi de tarde que também terminei de arrumar a mala pra levar pro hospital. A roupa da Alice já estava pronta há alguns dias, mas a minha ainda não.

Já de noitinha, em casa, as contrações começaram a apertar. A Ruth (parteira) me ligou por volta das 7 da noite, e naquele momento as contrações já vinham a cada 10 minutos e doíam um pouco mais. Ela disse que ligaria de novo pela manhã, mas que eu podia ligar a qualquer hora, caso o quadro mudasse.
Todo mundo foi pra cama lá pelas 8:30 da noite. Mais de 12 horas de bolsa rota. Fui pro quarto e fiquei com André. Foi aí que a coisa começou a apertar de verdade!
As contrações ficaram mais fortes e duravam cerca de 30 segundos. O espaçamento ainda ficou meio irregular, 10 e 5 minutos. Depois ficaram de 5 em 5. A dor aumentava. Eu respirava fundo a cada contração, até passar. Tentei ficar deitada, mas essa posição era muito ruim. Tentei várias posições – em pé na parede, ajoelhada na cama, sentada na cama. Nada era confortável. Até que tive uma mega contração, que durou mais de 1 minuto, e eu senti a cabeça da Alice descendo com força. Foi uma dor fenomenal. Liguei pra Ruth na hora e disse que não ia conseguir esperar as contrações ficarem a cada 3 minutos. Minha voz já estava bem fraca. Tive uma contração durante a ligação. Ela me encorajava dizendo que estava indo muito bem. Resolvemos ir para o hospital naquela hora. Eram 10:30 da noite. Meus pais ficaram dormindo em casa. O plano era que eles iriam pro hospital de manhã. Não era justo acordar a Laura. A noite seria longa.

André nunca dirigiu tão rápido. Eu nem coloquei o cinto de segurança, não dava. No carro eu comecei a emitir sons durante as contrações, além de respirar fundo. Segundo André, eu “urrava”. Comecei a tremer também. Achava que era de frio, mas tinha momentos que sentia muito calor, e a tremedeira não passava. Eu batia o queixo. No caminho liguei pra Belle. Ela ia fotografar o parto.
Chegamos no hospital umas 11 da noite. Fiquei na admissão, enquanto André estacionava. A moça falava comigo e eu mal conseguia falar. Fiquei em pé, mexendo de lá pra cá. Pegamos a papelada que a moça deu e fomos pro terceiro andar. Andamos pelos corredores vazios do hospital, parando a cada contração. Foi difícil achar a ala da maternidade, e não tinha uma alma viva pra ajudar. Até que encontramos o corredor certo e a Ruth já estava nos esperando lá.

Fomos para o quarto. O mesmo quarto da internação, parto e pós-parto. Não saímos de lá pra nada. A Belle chegou uns 15 minutos depois. Ruth conversou comigo sobre os procedimentos do hospital. Ela me colocou no soro (sem ocitocina, só o soro mesmo), e a enfermeira me colocou no monitor fetal. Eram duas coisas que eu queria evitar, mas era procedimento padrão do hospital. A obstetra de plantão veio conversar também. Depois a Ruth me disse que ela tava toda estressada porque era um PNAC (parto normal após cesárea, ou VBAC, em inglês). Mediram a minha pressão também. Fiquei uns 15 minutos ali na cama, só pra avaliar os batimentos do bebê e a minha pressão.
Ruth me examinou. 3 centímetros de dilatação. “Só isso?”, eu perguntei desanimada. Ela novamente me encorajou, dizendo que estava ótimo. O colo do útero já estava praticamente apagado, só faltava terminar a dilatação, que ela imaginava que aconteceria pela manhã.

Eu queria levantar, queria ir pra banheira. Ao mesmo tempo já estava pedindo anestesia, a peridural. Não ia aguentar sem a anestesia. Pedi várias vezes. André tentou contra-argumentar, porque eu tinha falado pra ele fazer isso mesmo quando eu pedisse arrego, mas eu ainda estava consciente e disse que não aguentaria mesmo. Era uma dor insuportável. E ainda estava espaçado, eu não podia imaginar como seria mais forte que aquilo e com intervalos menores. Sem chance.
Ainda senti muitas contrações até eles prepararem tudo pra anestesia. O anestesista era residente do hospital, e ainda ficou de blá blá blá (explicando os riscos, etc… procedimento padrão do hospital) enquanto eu só queria que ele enfiasse aquela agulha logo nas minhas costas pra parar de sentir dor! Falei com a Ruth que isso não era o que eu queria inicialmente, mas eu não aguentaria MESMO. E sabia que dali pra frente poderiam acontecer outras intervenções, só porque eu aceitei a anestesia. Falei que eu sabia que o trabalho de parto poderia demorar mais. Mas naquela hora eu já não me importava. No fundo eu tinha fé que teria meu parto normal, apesar de saber que poderiam ainda acontecer outras intervenções.

Depois da anestesia, ainda demorou um pouco pra eu parar de sentir as dores, talvez 20 minutos. Mas depois foi um alívio! O anestesista fez um teste do gelo, pra ver até onde eu estava anestesiada. O efeito atingia as minhas costelas. Ainda sentia um pouco de dor sim, e muita pressão na hora das contrações. Não perdi totalmente os movimentos da perna.
Por conta da anestesia, tive que ficar deitada. Por procedimentos do hospital, me colocaram no monitor fetal eletrônico o tempo todo. O engraçado foi que apesar de saber que deitada de costas era a pior posição, foi a melhor pra mim. Quando eu deitei de lado, os batimentos do bebê caíram. Aí eu deitei de costas e os batimentos ficaram normais. Achei super curioso isso! Aliás, essa coisa do monitor foi interessante. Por várias vezes os batimentos cardíacos da Alice caíram, mas logo recuperavam. Ninguém ficou estressado. Tinha uma enfermeira com a gente o tempo todo, além da Ruth. Só uma vez a obstetra de plantão perguntou no interfone se algo estava errado porque os batimentos tinham caído (eles eram mostrados na sala da obstetra também). A Ruth sempre ficou muito calma e eu estava tranquila também. Sabia que ia tudo dar certo.

Já era meia noite e pouco, eu acho, ou uma e pouco da manhã. Não tenho mais noção do tempo. Todo mundo ia descansar agora, porque só tínhamos que esperar eu terminar de dilatar tudo. Quando foi 2 e 10 da manhã, eu sentia muita pressão das contrações e sentia vontade de empurrar. Falei pra Ruth. Ela disse que ia me examinar. 10 cm!!!! Em 2 horas eu dilatei 7 cm. Eu não podia acreditar. Foi MUITO rápido.
Ainda esperamos 1 hora pra começar o período expulsivo. A Ruth falou que porque eu estava com anestesia, ela queria ter certeza que eu tinha a vontade de fazer força, pra não me desgastar à toa. Quando foi 3:30 da manhã, comecei a fazer força. Detalhe: as contrações NUNCA diminuíram de intervalo. Continuaram a cada 5 minutos. Às vezes 3, depois 7, depois 5.

E dá-lhe fazer força. Que sensação estranha! Parecia que tinha um ovo no meio das minhas pernas, um ovo de dinossauro. Eu sentia como se fosse evacuar, de tanta pressão no reto. Fiquei deitada na cama mesmo, porque não tinha força nas pernas pra tentar alguma posição vertical. A cama inclinada em 45 graus e as pernas apoiadas numa barra de ferro. Fiquei nessa posição por uns 40 minutos, fazendo força. Sentia a Alice descendo. Eles colocaram um espelhão na minha frente. Deu pra ver TUDO!
Lá pelas 4:15, trocamos de posição. Fiquei de lado e levantei a perna. Essa posição foi melhor pra mim. Já dava pra ver um pouco da cabecinha dela. Ruth falou pra eu colocar a mão lá embaixo e sentir a cabeça da Alice. Foi uma sensação incrível, saber que logo logo a minha neném estaria nos meus braços. Aquilo me deu ainda mais força pra empurrá-la pra fora de mim. Eu nunca fiz tanta força na minha vida! André diz que eu fiquei roxa. Mais umas 3 ou 4 contrações e a cabeça saiu e depois o corpo. Alice tinha cordão no pescoço e vi a Ruth tirando assim que a cabeça dela saiu. Apesar da anestesia, senti tudo, senti o corpinho da Alice deslizando por dentro de mim. Senti o tal “círculo de fogo” quando a cabecinha dela coroou, é uma ardência enorme!

Eu rasguei um pouquinho, duas lacerações de primeiro grau (uma em direção ao reto e uma lateral). Não tive episiotomia. Alice veio pro meu colo na hora e ali ficou. Ninguém tirou ela de mim e ela só foi examinada mais de meia hora depois. Ela demorou um pouco pra chorar, estava muito calminha. Talvez tenha sido a anestesia, não sei. Ruth esperou o cordão parar de pulsar e ofereceu ao André que o cortasse. Ele aceitou. Aliás, André foi um guerreiro neste parto. O apoio dele foi fundamental pra mim. Ele dizia que estava orgulhoso de mim. Eu pari a nossa filha.
Minutos depois a placenta saiu. A Ruth me costurou (não senti nada de dor) e depois me mostrou a placenta, disse que já tinha alguma calcificação por dentro. Então foi só alegria. A dor passou na hora, impressionante! Depois de tudo limpo, Alice foi examinada, pesada, medida. Lá pelas 5:30 pudemos descansar. A Ruth me deu alta por volta das 7 da manhã e às 9:30 a gente saiu do hospital, pra casa. A MELHOR coisa foi levantar da cama e não sentir dor NENHUMA!

Eu adorei a minha experiência de parto normal. Não foi natural, como eu imaginava que seria, mas foi o melhor pra mim. Eu soube respeitar os meus limites. A gente tem que saber o que dá e o que não dá pra fazer. E EU não ia aguentar aquelas contrações PUNKS. Eu não tinha dormido nada durante o dia, já estava morta de cansada. Foi a melhor opção pra mim naquele momento. Estou realizada!
Sou grata primeiramente a Deus, que concedeu o desejo do meu coração, que era parir minha filha. Agradeço a Ele também por ter colocado pessoas maravilhosas no meu caminho, que me ajudaram a realizar este sonho. A decisão mais acertada que fiz foi ter trocado de obstetra para parteira no meio da gestação. A Ruth foi simplesmente um anjo! Agradeço a Deus pela fé que colocou em mim, que eu era capaz de parir, que a minha cesárea anterior não seria obstáculo pra um parto normal desta vez.

Agradeço ao meu marido, André, que me apoiou em tudo, que manteve a calma e pariu junto comigo a Alice (sério, até respirar junto comigo ele respirou!). Agradeço a minha filha, Laura, que me ensinou o que é ser mãe e me preparou para a chegada da sua irmã. Agradeço aos meus pais, que respeitaram a minha escolha e, pra minha surpresa, também ficaram calmos depois que a bolsa estourou. ;) Um agradecimento especial à minha querida amiga Belle, que eternizou em fotografias esse lindo momento das nossas vidas.

E obrigada a todos vocês, leitores do blog, que torceram por nós. Espero que minha experiência sirva de exemplo pra outras mulheres, cesareadas, que desejem ter um parto normal também. É possível, não tenham medo e não se deixem enganar por qualquer médico que diga o contrário.

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