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sábado, 17 de setembro de 2011

Parto de Vitor (normal , dentro d'agua e em casa )




Quando as contrações começaram a ficar ritmadas eram umas 14h30, estavam totalmente inofensivas, eu ainda fiz as unhas (só fiz a mão), e a manicure olhando para minha cara como se eu fosse doida, de vez em quando perguntava se estava doendo, se eu ia mesmo ter em casa, minha sorte é que ela já conhecia essa história de parto domiciliar.
Fui contando quantas vinham em uma hora para ver se tinha que chamar a parteira ou se ainda esperava. Depois da unha fui fazer um bolo que já havia começado e precisava terminar. Logo depois de pedir para o Horacio ir logo para casa eu passei a “bola” para minha mãe, expliquei para ela o que faltava para terminar o bolo e fui me concentrar em parir, já que a dor estava ficando mais intensa.
Nesse início eu ainda estava vendo quanto tempo demorava cada contração para poder passar as informações para a parteira e ver se tinha que ligar para quem iria participar do parto. Passei as informações de como as coisas estavam e ela falou que iria a sua casa buscar as coisas e iria para lá. Do tempo que ela foi lá e voltou acho que falamos umas duas ou três vezes e logo ela chegou. Ela já avisou a pediatra e quando chegou em casa e “ouviu” uma das minhas contrações falou que já podia chamar todo mundo.
Todos avisados, Horácio chegou e foi organizar as coisas dele e se arrumar, eu fui arrumando o que dava e quando vinha a contração eu parava. Depois de alguns minutos eu me incomodei porque o Horácio estava demorando muito tempo para organizar as coisas dele e vir ficar comigo, e dei um grito nele para ele terminar logo as coisas e vir ajudar. Ele veio, eu comecei a dar as ordens do que queria que ele fizesse e mostrei o que ele tinha que fazer em mim durante a contração (pressão no quadril), aí ele ia fazendo algo, eu falava “contração!” ele vinha e apertava meu quadril. Demorou um pouco para ele pegar o ritmo (as contrações vinham mais ou menos de três em três minutos e duravam menos de um minuto), mas logo entramos em sintonia.
Inflaram a banheira, ligaram a mangueira no chuveiro e encheram a banheira de água quentinha, a Bia assim que viu a banheira ficou toda empolgada e quis entrar, lembro de uma breve discussão se ela deveria fazer xixi antes de entrar ou se podia entrar sem fazer xixi, tentativa de convencê-la a fazer xixi e conclusão de que tanto fazia, até porque se eu ficasse com vontade de fazer xixi durante as contrações eu não iria sair para fazer, então xixi por xixi dava no mesmo. (O Horácio é uma das pessoas mais “frescas” que eu conheço, se eu não estivesse em trabalho de parto ele não entraria na água se a Bia fizesse xixi). Bia e eu entramos na banheira, e o Horacio ficou do lado de fora e fazia a pressão quando eu tinha a contração, até que eu falei para ele que estava na hora dele entrar.
Nessa hora estavam presentes, além do Horacio, da parteira e da Beatriz, a minha mãe (que dessa vez eu responsabilizei com os cuidados com a Bia e com a comida, já que no primeiro parto ela ficou totalmente zoada, falando pelos cotovelos, querendo resolver um monte de coisa que não precisava e a uma certa altura do trabalho de parto começou a jogar óleo de unção – somos evangélicas – dentro da água da banheira e pedir a Deus para acabar logo o parto para eu parar de sentir dor), a minha irmã Violeta (querida que cedeu a casa dela para o parto) e seu namorado Bruno (que segurou a minha mão em muitas das contrações e inclusive ofereceu seu braço para eu morder durante a contração).
Horacio entrou na banheira e a Violeta teve a brilhante idéia de tirar algumas fotos antes do Marcelo Min chegar. Estava tudo ótimo, eu estava me sentindo fantástica, poderosa e pronta para encarar o que viesse. Dava risadas entre as contrações, brincava, conversava, fazia piadas e tirava fotos. Essa foi a melhor parte do trabalho de parto, estava tão confiante, as contrações doíam, mas eu me orgulhava daquele momento e ia sentindo o neném descer, muito mais consciente do que estava acontecendo, mais segura e sem medo, e ao mesmo tempo acho que estava conseguindo me entregar mais, me desligar, tanto que não tenho idéia de quanto tempo as contrações duravam ou de quanto em quanto tempo vinham (no parto da Bia eu estava de relógio no braço e olhando até a doula me falar para tirar o relógio e esquecer, isso já umas seis horas antes dela nascer). A cena era linda, no começo eu, Horácio e Bia dentro da banheira, a Bia conseguia respeitar a maioria das contrações, ficava quieta, nadava em volta de mim, sem me tocar, jogou aguinha nas minhas costas durante uma contração, fez massagem em outra, e até massagem no Horácio ela fez em uma hora que ele estava apertando o meu quadril. Quando ela saiu éramos eu e Horácio, em completa sintonia, ele usava toda sua força para fazer a pressão no meu quadril – e eu ainda pedia para apertar mais forte! – quando a contração parava, ele soltava aliviado e aproveitava os poucos minutos entre uma contração e outra para tentar relaxar os músculos e respirar.
Em nenhum momento a Bia se assustou com os meus gemidos e vocalizações, e até dormiu uma hora que geralmente não dorme, e acho que foi a hora em que eu estava na fase de transição. A pediatra chegou e eu sabia que o processo estava evoluindo, o tampão começou a sair na água e o Horacio falava que tinha saído alguma coisinha. As contrações começaram a ficar mais fortes e eu resolvi inserir os dedos para ver se já sentia algo, e consegui sentir a bolsa inserindo menos da metade do dedo. Falei para a parteira e ela até comentou com a pediatra que logo logo nascia. Durante a contração o Horacio fazia a pressão, alguém me dava uma mão, uma hora comecei a pedir que tivessem duas pessoas, uma de cada lado para que eu pudesse segurar duas mãos, e a uma certa altura eu tive vontade de morder as mãos que eu estava segurando.
O tempo foi passando e nada do neném dar sinal de que nasceria, comecei a sentir dor nas costas e falei para a parteira, mostrei onde era a dor e ela só fez uhum e não falou mais nada, eu pensei o bebê está virando para o lado errado e por isso está demorando. Comecei a ficar irritada, brava com o bebê, inseri os dedos novamente e estava igual, exatamente no mesmo lugar. No inicio eu falava carinhosamente para o bebê sair, para ele descer, que ele conseguia, para ajudar a mamãe, nessa hora eu já estava gritando SAIIIIIIIII! SAIIIIIIIII!!
Acho que falei algumas vezes que não queria mais, que estava doendo, que esse neném não nascia, e ouvia sempre que logo ele nasceria, não acreditava e fui ficando cada vez mais irritada. A parteira sugeriu mudar de posição e eu falei que não queria, ela insistiu e eu mudei, fiquei de barriga para cima e o Horacio segurava a minha mão durante a contração e eu tentava soltar o corpo na água. A primeira contração nessa posição foi fortíssima e eu falava que não dava, que doía muito e ela falou que então na próxima eu voltava para a posição que estava e eu falei que não fazia diferença, que estava doendo igual em qualquer posição. O Horacio já não apertava mais o quadril porque não estava fazendo nenhuma diferença. Ela sugeriu que eu saísse da banheira e ficasse em pé para ver se a gravidade ajudava o neném a descer. Saímos, Horacio e eu, e comecei a andar, parava durante as contrações e me debruçava nele, a dor estava bem forte e não estava funcionando.
A parteira sugeriu então o exame de toque para ver o que estava impedindo ele de descer, primeiramente falei que não, fiz cara feia, cara de choro, reclamei que não queria mais nada, que só queria que acabasse, ela carinhosamente me falou que ia acabar, que se a gente soubesse porque não estava descendo que poderíamos fazer algo, que poderia ir mais rápido se fizéssemos isso, mas que se eu não quisesse tudo bem.
Aceitei o exame de toque, contanto que fosse fora da contração, sentei no banco de parto, o Horacio atrás de mim e ela fez o toque: dilatação total com um pouco de rebordo, mas não suficiente para impedir que o bebê descesse, o que estava impedindo era a bolsa (acho que a melhor explicação seria uma bexiga meio cheia e com água dentro, se você tentasse passar ela por um cano).
Uma contração estava se aproximando e a parteira pediu para ficar um pouco com os dedos dentro de mim para ajudar na passagem, novamente eu reclamei, resmunguei, falei que não e por fim a contração chegou e foi tudo bem, já estava doendo muito mesmo, aquilo não fez diferença. Foram três contrações com ela ajudando e eu fazendo força (ao invés de gritar) o neném desceu, ela retirou os dedos e perguntou se eu queria voltar para banheira, falei que não queria mais nada, que ia ficar onde estava, todos se posicionaram em frente o banco de parto, a parteira no meio, e os outros em volta dela, a Bia ficou do lado e quando saía liquido na hora da contração ela ficava apontando e falando xixi, xixi, xixi.
Durante a contração a parteira sugeriu que eu não gritasse e ajudasse o neném a descer, a força que eu tinha vontade de fazer era natural, não tinha que fazer força, ela vinha sozinha, não dá para explicar direito. Falei para ela que estava com medo, ela perguntou do que, e eu falei: da cabeça! Ela me tranqüilizou e eu encarei que aquilo ia sair de mim, querendo ou não.
Do momento que ela interveio foram pouquíssimas contrações até o neném nascer, em uma contração a bolsa rompeu (molhando todos que estavam perto, principalmente a parteira, que exclamou “Que lindo! A bolsa rompeu! Alguém pode pegar uma toalha para eu me secar?”, e a Bia falando “Xixi, Xixi, Xixi!”, na contração seguinte o bebê começou a coroar e eu senti uma pressão terrível no ânus e falei “Ai meu cu”, todos deram risada e eu comecei a sentir a cabeça saindo. Não me lembro do círculo de fogo, somente de sentir cada centímetro da cabeça passando, uma dor horrível e ouvir a minha mãe falando emocionada que estava nascendo, seguido de uma vontade de gritar com ela porque eu sabia que estava nascendo.
A parteira foi apoiar a cabeça dele e eu sentia o dedo dela encostando no meu ânus e falei para ela tirar que tava incomodando, ela falou que não estava tocando não, e eu gritando que estava sim! Aí veio o corpinho e novamente eu senti cada pedacinho saindo, parecia que eu ia estourar. Nessa hora eu pensei que nunca mais ia conseguir fazer cocô, que eu ia ter que levar ponto porque ia lacerar, que eu nunca mais queria sentir aquilo na minha vida, que o próximo seria no hospital com muita anestesia, que aquilo era loucura e tortura.
O neném saiu e ela pediu o horário, a pediatra cantou “22:17”, eu não acreditei que já era tão tarde, mas gostei de saber que ainda era o mesmo dia, colocaram o bebê no meu colo e a pediatra cobriu ele com as fraldinhas de pano e eu lembrei de olhar o sexo, quando vi não acreditei, como podia ser um MENINO? A minha família não tinha meninos, somos seis irmãs, meu pai só conseguiu um menino no sétimo filho! Todos estavam curiosos para saber e eu falei “é um menino”, a minha mãe falou que eu fiz careta, e assistindo a filmagem eu vi que eu fiz mesmo, tá, eu queria uma menina, ter um menino não me entristeceu, me deixou apavorada, eu não sabia (acho que ainda não sei) o que fazer com um menino, como cuidar, como limpar, como educar!!
Já havíamos decidido que se fosse um menino se chamaria Victor, então, diferente da Bia, ele teve nome assim que nasceu. Mostrei o Victor para o Horácio, que ainda estava sentado atrás de mim, ele estava chorando e me falou que eu teria que conviver com um papai chorão. Todos estavam muito emocionados, levantaram para vê-lo melhor, a minha mãe queria ver o pintinho de perto, e estava muito feliz com a chegada de um homem para a família.
Ele nasceu muito bem, com apgar 10/10, 3,460g e 50cm, não chorou de logo de cara, começou a chorar um pouco depois, tirei a parte de cima do biquíni que estava usando e deixei ele pertinho do meu seio. A Bia veio conhecer ele, falou que ele era fofo, viu o pintinho e falou que era uma kiki (nome que usamos para falar da periquita dela), explicamos que não era kiki e ela achou engraçado.
Tem muitas outras coisas que eu teria para contar, só que aí o relato viraria um livro! O Victor é um bebê lindo, fofo, eu amo ele muito, já me acostumei com o fato dele ser um menininho, já sei limpar um pintinho, e amo que ele tenha nascido um menino. Ele é dengoso e tranquilo, o oposto da Beatriz, dorme a noite inteira, mama muito e é um pouco mais nervoso que a Bia para mamar. Agora já consigo lidar melhor com a Beatriz, estamos nos adaptando e eu a amo ainda mais, ela me deixa orgulhosa diariamente, com tantas novidades e comportamentos dignos de dama.

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